O LÍRIO BRANCO, SÍMBOLO DO PENSAMENTO POSITIVO

Fabcaro explica-nos o título deste álbum:

 Eu queria encontrar um título que se enquadrasse no espírito de Goscinny e Uderzo, em que o tema é muitas vezes encarnado num objeto físico ou numa pessoa (O Caldeirão, O Adivinho, O Grande Fosso, O Escudo de Arverne, A Foice de Ouro…). Aqui, o lírio é um símbolo de bondade e de plenitude.

O Lírio Branco é o nome de uma nova escola de pensamento positivo, vinda de Roma, que começa a propagar-se pelas grandes cidades, de Roma a Lutécia. Os exércitos romanos estão desmotivados e César decide que este novo método pode ter efeitos benéficos, nomeadamente sobre os campos fortificados em redor da famosa aldeia gaulesa. Mas os preceitos desta escola influenciam igualmente os habitantes da aldeia que com eles se cruzam…  a nova escola de pensamento positivo foi criada pela personagem principal da capa, médico-chefe dos exércitos de César, o «vilão» desta aventura que, naturalmente, traz sempre com ele um lírio branco.

Didier Conrad explica-nos a capa: 

Quis dar destaque à nova personagem principal, colocando-a bem ao centro e em primeiro plano. Representei-a de costas voltadas para o Astérix para mostrar que este último não se deixa enganar, lançando-lhe um olhar irónico.

Em segundo plano, quis mostrar os efeitos que o método do Lírio Branco pode ter sobre os habitantes da aldeia. Para uns funciona como uma espécie de feitiço, para outros provoca a desconfiança e a resistência.

 

Sonho branco – extraído do conjunto Sonhos de uma Vida de Íris, 2019, 9,5 x 14 cm, lápis de grafite sobre papel esponjoso. Desenho de Laurence Gossart.

Por Laurence Gossart, Professora Doutora em Artes da Universidade de Paris / Panthéon-Sorbonne

Qual é a história do íris?

O íris é uma flor que apareceu no período Cretácico, isto é, há 80 milhões de anos. É uma pequena flor, a que a história conferiu grande valor. É antes de mais um dos símbolos egípcios, associado sobretudo a Hórus, o deus da alvorada e do crepúsculo.

Mas Íris é também uma divindade grega, benevolente mensageira dos deuses e favorita de Hera, pois é mui- tas vezes portadora de boas notícias. Íris, em grego antigo, significa o arco-íris, por onde a deusa se deslo- ca quando vem à Terra. A flor é o reflexo do seu nome, encarnado assim a amplitude da paleta de cores.

Há inúmeras variedades de íris: íris-dos-pântanos (também conhecido como lírio-dos-pântanos), iris pallida, iris siberica, iris germanica e a sua subes- pécie iris florentina. Este último, de cor branca, é ao que tudo indica a flor que na Antiguidade se encon- trava disseminada por todo o litoral da bacia medi- terrânica, e de que Gregos e posteriormente Roma- nos fizeram uso recorrente. Mais tarde, no século VI, Clóvis, rei dos Francos, fez do íris o símbolo que hoje conhecemos sob o nome de flor-de-lis. Diz-se que, durante a guerra que travou com os Visigodos, um veado atravessou o rio Vienne, mostrando assim ao exército uma passagem entre as duas margens que aproveitava uma faixa de terreno estabilizado por rizomas de íris.

Como foi o íris utilizado por esses povos e qual o seu significado?

Verdadeira planta mágica, o íris possui numerosas virtudes e assume simbologias diversas.

É uma das plantas mais cobiçadas pelas suas proprie- dades terapêuticas, sendo utilizada em inúmeros re- médios naturais. Na Grécia, esta flor adornava os tú- mulos em homenagem à deusa Íris, uma das missões da qual seria cortar os cabelos das mulheres quando estas morriam, antes de as guiar até à sua última mo- rada. Quanto aos Romanos, viam a representação das pétalas das flores como símbolos de sabedoria, fideli- dade e bravura. Por essa razão, era comum plantar íris azuis e brancos nos templos dedicados a Juno.

Deusa, mulher e flor, o íris é também, na poesia, a en- carnação da mulher amada. Sinónimo de coragem e de fidelidade, esta flor é ainda portadora de sabedoria e conhecimento acrescidos. Representado o ardor, é igualmente símbolo de uma inteligência superior.

No que diz respeito ao íris branco, há que começar por assinalar que o arco-íris resulta da difração da” “luz branca e exibe uma explosão de cores. O íris branco é portanto, em si mesmo, a encarnação de uma ideia paradoxal: é simultaneamente as cores e a cor. Mas, na linguagem das flores, este aparente paradoxo esvai-se: diz-se, aliás, do íris, que ele é o prenúncio de um amor terno ou de uma união.

E o que têm a ver os nossos amigos gauleses com tudo isso?

Terão ficado inebriados com as fragrâncias ema- nadas dos campos de íris na primavera? Ter-se-ão banhado com as suas pétalas para se purificarem e afastarem os maus espíritos (prática habitual no Japão)? Terão mastigado os seus rizomas ou vene- rado o íris como os Gregos e os Romanos? É bem possível. O Mundo Romano, tal como a Gália, são territórios que o íris já ocupava muito antes dos seus habitantes… Portadora de boas notícias e de bondade, esta pequena flor iluminava vales e pla- nícies com a sua sabedoria antes de adornar os templos ou ser usada em poções.